Desde muito cedo busco algo a mais na minha vida, algo que justifique a existência ou ao menos que acrescente mais sabor ao viver. Felizmente posso dizer que tenho sido bem-sucedido. A busca tem me proporcionado experiências cheias de significados, e é por isso que Looking For Alaska me encantou.
Quando li A Culpa É das Estrelas, ainda no Ensino Médio, achei a escrita do John Green bastante formidável. Me rendeu um bom tempo lendo, mas nunca fora algo que eu tenha me envolvido de maneira mais profunda. A adaptação de Quem é você, Alaska?, por outro lado, me rendeu algumas reflexões.
Adolescência é um período em que, geralmente, pequenos problemas tomam proporções muito maiores por causa dos hormônios. É um processo que faz parte do amadurecimento, mas algumas pessoas têm mais com o que se preocupar do que passar nas provas, lidar com paixonites e embates com os pais. Peço que não me entenda mal, todas essas experiências têm importância e podem sim causar sofrimento, mas o que quero dizer é que alguns têm lutas a mais com as quais se preocupar.
A princípio me identifiquei com Miles (ou Gordo). Me pareceu interessante que alguém buscasse seu “grande talvez” já na adolescência, porém coloquei esperanças num personagem que no fim das contas era o mais raso de todos. Talvez por isso ele estivesse em busca de significados, enquanto garoto branco, heterossexual, de classe média, com pais que apoiavam suas aventuras, era difícil encontrar algo que fosse mais profundo. Acho que a série acerta bastante ao mostrar isso de uma maneira bastante sutil. Há uma cena em que os personagens narram histórias dos seus melhores e piores dias, e fica bastante claro o quanto Miles tem experiências com uma carga emocional muito mais leve que seu grupo de amigos.
Por mais que o personagem se mostre cativante no início, Miles se perde na trama em algum momento. Talvez porque nos primeiros episódios sua falta de profundidade é compensada pela sua empatia para com os outros. Miles busca por um “grande talvez”, mas isso parece estar apenas na teoria. Ele não se importa com significados. Em um momento em que um personagem discursa sobre uma de suas dores, ao passo que vemos os outros personagens completamente envolvidos, Miles se foca em apenas admirar a garota pela qual ele está afim.
Eis que então nos deparamos com Alaska: uma garota cheia de atitude, que parece ser encantada pela vida, e que busca mais do que simplesmente existir. É uma personagem que tem muitas camadas e que não se resume a um par romântico ou qualquer clichê simplista. Alaska não existe na história para ser objeto de observação do Miles, que em tese é o protagonista. Suas ações não são limitadas a desenvolver o arco narrativo de qualquer outro personagem, até porque, como o título nos faz presumir, a história é sobre ela.
No fim das contas, por mais que ela se divirta com as pegadinhas que prega, com os momentos que passa bebendo ou com seus romances, coisas que são geralmente o que adolescentes fazem, Alaska convive e luta por outras batalhas. Seus desejos não são superficiais, vazios ou sem significado. Ela quer se livrar ou apenas evitar suas dores e traumas. Kristine Froseth faz um trabalho brilhante ao mostrar, desde o início que sua personagem é mais do que diz ou faz.
Ela tenta entender o mundo e encontrar um espaço em que ela possa ser, pensar e se envolver, e é claramente perceptível sua maturidade. Ela não namora um universitário para ser “cool”, ela namora um cara com quem possa se relacionar de forma madura. Pornografia, álcool e festas revelam questionamentos, inquietações e angústias. Isso não é exatamente o que se espera da juventude.
Os outros personagens têm dificuldade para compreender as atitudes de Alaska, mas talvez porque eles se ocupam com coisas tão superficiais que não conseguem entender que a vida da garota sempre foi mais que isso, que há coisas que para ela são impossíveis de ignorar.
É importante ressaltar ainda que a série lida com diversas dores: racismo, luto, bullying, desigualdade social, homofobia… Trazendo para personagens secundários profundidade que falta em seu protagonista.
São poucas as obras que retratam a adolescência como sendo mais que os estereótipos dessa fase da vida e Looking for Alaska certamente está nessa restrita lista. A série não trata de dramas adolescentes, trata de questões humanas universais, e nisso está sua maestria.
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